Em seu livro Economics in One Lesson (Economia Em Uma Única Lição), Henry Hazlitt faz uma famosa distinção entre bons e maus economistas:
“O mau economista vê apenas o que imediatamente chama a atenção; o bom economista também olha além. O mau economista vê apenas as consequências diretas de um curso proposto; o bom economista olha também para as consequências mais distantes e indiretas. O mau economista vê apenas qual foi ou qual será o efeito de uma determinada política em um grupo específico; o bom economista também pergunta qual será o efeito da política em todos os grupos”.
Tomando a abordagem do bom economista, um documento de trabalho recente do National Bureau of Economic Research (NBER) destaca algumas das consequências não intencionais das políticas de Covid, especificamente a vacinação obrigatória dos trabalhadores.
O artigo, intitulado Promoting Public Health with Blunt Instruments: Evidence from Vaccine Mandates, foi escrito por Rahi Abouk, economista da William Paterson University, e pelos economistas John S. Earle, Johanna Catherine Maclean e Sungbin Park da George Mason University.
Os autores investigam se a implementação de vacinação obrigatória em nível estadual para trabalhadores do setor de saúde resultou em um aumento ou diminuição no emprego desse setor.
Os autores sustentam que não está claro se a vacinação obrigatória incentivaria ou desincentivaria o trabalho no setor de saúde, uma vez que as exigências poderiam, teoricamente, trazer tanto custos quanto benefícios.
Do lado dos benefícios, os autores argumentam que os trabalhadores do setor de saúde podem enxergar as vacinas obrigatórias como uma melhoria na segurança do ambiente de trabalho. Segundo os autores, “se as exigências aumentarem a percepção de segurança no setor de saúde, trabalhadores adicionais podem ser atraídos para essa área, aliviando a escassez de pessoal”.
Por outro lado, as exigências de vacinação têm um custo. Os trabalhadores podem ser céticos quanto à segurança da vacina, o que pode levar alguns a preferirem deixar seus empregos em vez de se vacinarem.
Em economia, vemos as pessoas comparando os custos e benefícios para tomar decisões. Se alguém está em cima do muro sobre uma decisão, os economistas chamam isso de estar na margem. Portanto, o artigo tenta responder à seguinte pergunta: O trabalhador marginal vê as exigências de vacinação como um benefício ou um custo?
Então, o que os pesquisadores descobriram? O artigo conclui: “Registramos uma queda de 6% na probabilidade de buscar trabalho no setor de saúde após a exigência de vacinas contra a COVID-19 para profissionais nos estados, no período de 2021 a 2022.”
Em outras palavras, este artigo fornece evidências de que o trabalhador marginal no setor de saúde considerou o custo das exigências maior do que os benefícios.
A notícia fica ainda pior… Dentro do setor de saúde, há funcionários que atuam diretamente na área de atendimento à saúde, enquanto outros desempenham funções que pertencem indiretamente ao setor. Desses subgrupos, o artigo diz: “Desanimadoramente, descobrimos que a redução é maior para os trabalhadores em ocupações de atendimento direto em comparação com aqueles em ocupações não relacionadas”.
Se os resultados do artigo estiverem corretos, parece que podemos creditar a era da política de Covid com mais uma consequência não intencional. As exigências de vacinação para profissionais de saúde, pelo menos no papel, foram vendidas como uma forma de melhorar a segurança para trabalhadores e pacientes nesse setor. No entanto, dado que as exigências fizeram com que os trabalhadores deixassem o setor, parece que tornaram as coisas menos seguras para todos.
Uma escassez mais intensa de profissionais de saúde pode significar que os trabalhadores existentes assumam turnos mais longos ou mais difíceis, o que os expõe a mais contágios. Os pacientes também podem ter tempos de espera mais longos devido à escassez de trabalhadores.
Ao longo da Covid, alguns economistas deram palestras ao público sobre as externalidades positivas de se obter uma vacina contra a Covid. Esses economistas falharam no teste de Hazlitt ao ignorar as externalidades negativas invisíveis de instrumentos políticos contundentes como as exigências.
Artigo escrito por Peter Jacobsen, publicado em Foundation for Economic Education e traduzido por Isaías Lobão
Peter Jacobsen é Writing Fellow na Foundation for Economic Education.