Agricultores e pecuaristas espanhóis levaram seus tratores ao centro de Madri nesta quarta-feira (21), em protesto as dificuldades do setor causadas pela política agrícola europeia. Manifestações similares já ocorreram em outro países europeus, como Alemanha e Países Baixos.
Insatisfação dos agricultores espanhóis
Em convocação do sindicato União de Uniões, milhares de produtores vindos de toda Espanha percorreram as ruas da capital espanhola, acompanhados do som das buzinas dos tratores. Os manifestantes se dirigiram ao Ministério da Agricultura, onde os cem veículos formaram cinco colunas ao redor do prédio, enquanto erguiam cartazes com lemas como “O mundo rural morre” e “Sem o campo, a cidade não come”.
A manifestação, que aconteceu após três semanas de ações de protesto em todo o território espanhol, provocou diversos engarrafamentos e confusão com a polícia.
“Que nos escutem!” – esse foi um dos lemas mais usados pelos manifestantes.
“O que queremos é que nos escutem, que as autoridades compreendam que não podemos seguir assim”, vendendo produtos a preços que “não nos permitem viver”, disse José Ignacio Rojo à AFP , um manifestante de 58 anos chegado de Burgos, ao norte de Madri.
“Eu trabalho 14 horas por dia. E quando termino meus dias no campo, tenho que lidar com a papelada pela burocracia do setor”, disse um homem que tem junto com sua filha uma fazenda de 330 hectares dedicada aos cereais e à pecuária.
Um agricultor de 70 anos, chamado Bernardino Hernández, levava um cartaz em que se lia: “A burocracia arruína minha plantação”.
“Só para a administração, necessitaria de uma pessoa em tempo integral, o que é impossível”, afirmou um viticultor proprietário de 40 hectares perto de Cuenca, no centro do país. “Antes tinha três empregados, mas agora resta apenas um, por causa dos preços da uva, que afundaram durante os últimos 3 anos”, completou.
O coordenador nacional do União de Uniões, Luis Cortés, pediu ao governo para “simplificar” os procedimentos administrativos e “proteger” os agricultores, muitos dos quais devem “vender com prejuízo”.
Além de Madri, os agricultores também protestaram em outras regiões do país, como Múrcia e Málaga, convocados pelos três principais sindicatos de agricultores e pecuaristas: Asaja, Coag e UPA.
A “solução” proposta pelo governo
Prometendo uma “solução” para o problema, o ministro da Agricultura, Luis Planas, garantiu em um comunicado “o firme envolvimento do governo em dar respostas às preocupações de agricultores e pecuaristas”, recordando que na semana passada apresentou um pacote de medidas de apoio ao setor após uma reunião com os sindicatos.
Na segunda-feira, o ministro voltou a defender em Bruxelas o estabelecimento de “cláusulas espelho”, um mecanismo que obriga os produtos importados a respeitarem as mesmas normas que são exigidas dos agricultores europeus.
Essa é de uma fato uma “solução”?
A indignação dos agricultores e pecuriaristas com os efeitos drásticos das políticas agrícolas não são apenas compreensíveis. Mas tambem cheias de razão. No entanto, ao invés de atacar as políticas ambientalistas e de controle de preços que encarecem os insumos e reduzem seus lucros, os produtores estão seguindo o caminho equivocado de exigir que estas mesmas políticas sejam aplicadas aos concorrentes estrangeiros que exportam seus produtos para a Europa.
O problema não é somente a UE aplicar apenas tais políticas aos agricultores locais e isentar os exportadores estrangeiros de tais obrigações. O problema são justamente tais políticas. Sem elas, eles não estariam enfrentando uma concorrência desleal com tais exportadores em primeiro lugar.
Ao pedir que tais leis agrícolas sejam tambem aplicadas aos produtores estrangeiros, os agricultores espanhóis e demais agricultores europeus estarão privando os consumidores locais das alternativas mais baratas que tinham acesso até então.