Desde a tarde deste domingo (8), manifestantes bolsonaristas estão tomando conta da Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF). O ato é uma medida desesperada movida pela rejeição ao atual governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT).

A invasão foi seguida por atos de depredação, demonstrando a indignação de vários manifestantes contra o atual governo. Mesmo que os casos de depredação sejam causados por uma minoria dos manifestantes, eles representam bem o clima político em que o país se encontra no momento.

À espera de uma intervenção

Desde que Lula foi eleito novo presidente do Brasil, vários bolsonaristas mostraram sua indignação bloqueando estradas e se dirigindo aos quartéis generais pedindo intervenção militar. A principal reclamação era de que as eleições haviam sido fraudadas. Com isso, os manifestantes esperavam que as Forças Armadas intervissem para colocar “ordem” na casa.

As manifestações, mesmo sem o resultado esperado, foram mantidas as custas de conflitos com a polícia e noites dormidas em acampamentos em frente aos quartéis.

Mas nada abateu os manifestantes, que mantiveram firme a esperança de que a tão esperada intervenção militar viesse. Sem nenhuma ação desejada por parte das Forças Armadas, os manifestantes em um ato de desespero invadiram Brasília.

A intervenção militar realmente é a solução?

Muitos bolsonaristas pensam que uma intervenção militar seria a única solução efetiva para retirar Lula do poder e o governo federal agir da forma que desejam. Não é de hoje que grupos mais à direita vem defendendo o retorno da Ditadura Militar no Brasil.

Esta ideia, no entanto, esbarra em uma série de problemas. Primeiro, a possibilidade de uma intervenção militar hoje.

Diferente do contexto de 1964, onde as Forças Armadas contavam com o apoio e incentivo do governo dos EUA para estabelecer um governo militar, visando a defesa de uma possível revolução socialista (já que era o contexto da Guerra Fria entre EUA e URSS), este não é o caso agora.

O governo americano, principalmente agora com Biden no poder, possui outros interesses políticos, e combater os fantasmas do socialismo está longe de ser um deles. As Forças Armadas, mesmo que quisessem, dificilmente teriam êxito em estabelecer um governo militar sem o apoio da maior potência mundial.

O mais provável é que um governo militar sofresse os mesmos boicotes que o governo russo sofre agora. E isso explica a hesitação dos militares em defenderem qualquer coisa do tipo.

Além da intervenção militar ser pouco provável de acontecer, ainda fica a pergunta se ela é uma solução de fato. Talvez do ponto de vista estatista, que vê um estado como entidade legítima, faça sentido a ilusão de que um poder que emane do estado possa consertar seus próprios erros e que todos os problemas sejam apenas problemas de gestão.

Mas uma visão realista de como funciona o estado mostra que o problema está na instituição em si. É graças ao próprio sistema democrático que eles – os democráticos – são obrigados a serem governados por alguém que possui valores contrários ao seus e que irá tomar medidas repudiadas por eles mesmos.

A democracia por si só é uma insanidade. Não faz o mínimo sentido que por uma pequena diferença de votos o grupo perdedor seja obrigado a aceitar medidas que ele desaprova totalmente.

Mas o problema não é apenas a democracia. Ela é apenas uma outra forma do problema. O estado em si, com a ideia de monopolizar certas funções e decidir sobre a vida dos indivíduos, é por si só um absurdo. Não importa quantos malabarismos os defensores de tal instituição façam para defendê-la, é impossível justificar sua existência.

Sem falar que a intervenção militar seria apenas a manutenção do poder. Todos que não aceitam um governo militar, além daqueles que não aceitam nenhuma forma de governo, estariam sendo submetidos a algo que não gostariam, contribuindo para a perpetuação do poder estatal.

Militares servem ao estado acima de tudo

Não é segredo para ninguém que existe um culto à polícia e às Forças Armadas por parte dos bolsonaristas. E isso se deve em grande parte ao monopólio do estado sobre a segurança e combate ao crime. O Brasil é um dos países com os maiores índices de criminalidade. Então não é exagero haver uma preocupação muito grande com a questão da segurança no país.

Como a maior parte da população não tem como recorrer a nenhuma outra alternativa, as forças estatais de segurança acabam assumindo a figura de heróis para a população.

Assim como os policiais, os militares em geral também partilham a imagem de heróis frente à população. Principalmente pelo fantasma do comunismo que assombra os brasileiros mais à direita.

A ideia de um passado onde os militares salvaram o Brasil de virar uma Cuba (e que poderiam agora evitar que virasse uma Venezuela) é bastante reforçada entre os bolsonaristas.

O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, um militar aposentado, parecia, para muitos, a esperança de que o heroísmo militar salvaria o Brasil mais uma vez da ameaça comunista.

Não será discutido aqui se o Brasil hoje está sob uma ameaça comunista ou não (embora o governo de Lula não deixe de ser uma ameaça a liberdade como qualquer outro, porém com maior força). Mas o fato é que há um mito no imaginário popular de que militares lutam pela nação acima de tudo.

Nada mais longe da realidade.

Como já dito, militares estabeleceram o governo militar entre 1964 e 1985 devido não apenas ao apoio do governo americano na época, mas também ao incentivo deste último.

Naquele contexto era melhor se aliar aos americanos, que queriam reforçar sua figura de soberania mundial e temiam ter isso ameaçado pelas revoluções socialistas desencadeadas pela Revolução Cubana.

O contexto agora é totalmente outro. O governo americano continua sendo a maior potência do mundo, mas agora usando outros fantasmas para justificar seu poder, como o combate ao “fascismo” e ao “aquecimento global”, e também o “combate às desigualdades”.

A luta contra o Fantasma do Comunismo findou com o fim da URSS.

Militares são indivíduos auto-interessados, antes de servirem ao estado, servem a si mesmos. Pode existir um ideólogo patriota aqui e acolá, mas a grande parte está mais preocupada com sua estabilidade, que depende da manutenção do estado democrático atual e que dificilmente seria mantido sem apoio externo. E isso significa se sujeitarem aos mandos e desmandos do STF e das organizações mundiais.

O quê significaria essa invasão à Brasília?

As opiniões sobre a invasão à Brasília parecem não divergirem muito, com a maioria das pessoas que comentam sobre o caso o repudiando. Para aqueles mais a esquerda é um exemplo do que o bolsonarismo é capaz.

Para alguns mais à direita, incluindo muitos bolsonaristas, é um desserviço à causa, manchando a imagem da direita. Como a maioria parte de uma visão estatista, faz sentido que enxerguem o ato como negativo em si mesmo.

Eu, particularmente, vejo mais como uma perda de tempo e sem utilidade prática alguma. Embora por um lado veja como positivo a demonstração de rebelião contra o estado, estou ciente de que tais manifestações são apenas súplicas por uma ditadura diferente no poder. E isso não resolve o problema em si, como já foi explicado.

A verdadeira solução

Toda essa revolta seria melhor utilizada em algo mais efetivo. E nada seria mais efetivo em relação ao estado que uma desobediência civil.

Mesmo para os bolsonaristas, que apenas não querem que Lula os governe, a desobediência civil seria de grande utilidade. Pelo menos não estariam favorecendo o governo que não querem.

Não queres que tiranos te governem? Não pague seus impostos, ignore as medidas e regulações e desobedeça qualquer ordem estatal. Esse é o verdadeiro caminho para a liberdade.

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