Em seu novo livro intitulado ‘O Livro Amarelo’ o MBL (Movimento Brasil Livre) mostra sua verdadeira face estatista, abrindo mão do seu até então liberalismo morno em prol da defesa de uma participação maior do estado na sociedade.

Do falso liberalismo ao total estatismo

O movimento, que surgiu em 2014 durante os atos pelo impeachment da então presidente, Dilma Rousseff, e que sempre parasitou outros movimentos mais à direita de forma oportunista desde então, agora defende uma “rejeição a certo tipo de liberalismo quase primitivo, em cujas simplificações nós mesmos havíamos incorrido no passado”.

Isso é curioso. O próprio MBL de longa data já vinha rejeitando o verdadeiro liberalismo, que longe de incorrer em “simplificações”, apontava para fatos irrefutáveis: de que uma sociedade econômica e sociologicamente mais livre tende a ser mais próspera. Algo que é fácil de constatar pela teoria econômica, história dos países que se aproximaram de tais ideais e o próprio Índice de Liberdade Econômica.

Já o MBL, por sua vez, já vinha renunciando a tal visão, defendendo uma participação crescente do estado na economia e nas ações dos indivíduos. E este novo livro veio para mostrar isso de vez.

Voltando ao livro, o movimento afirma que a obra pretende fazer um diagnóstico da situação do país em áreas como economia, segurança, saúde, educação, meio ambiente, defesa e cultura. E mais que isso. No site onde o livro está sendo vendido, é afirmado que nas 350 páginas do livro há um programa com tudo o que é necessário para resolver todos os problemas do Brasil.

Veja bem. O MBL acredita que sabe o que é necessário para resolver todos os problemas de mais de 200 milhões de pessoas em um país de dimensões continentais. Parece até uma piada de mal gosto, mas é apenas a pretensão descarada de pessoas que acham que sabem o que é melhor para centenas de milhões de pessoas que eles sequer conhecem. Muito menos suas necessidades.

O Livro Amarelo, como bem explicado pelo MBL, é um trocadilho em referência ao Livro Vermelho, de Mao Tsé-Tung, e o Livro Verde, de Muammar Gaddafi, ambos ditadores de esquerda. E pelo visto, assim como estes dois últimos livros, o livro do MBL é a pretensão de um projeto totalitário e soberbo. Teórica e historicamente, sabemos que fim projetos deste tipo têm. 

E voltando ao ataque do livro ao liberalismo clássico, o MBL afirma que:

“Com o advento da tragédia chamada governo Bolsonaro, esse liberalismo tomou uma forma particularmente submissa e execrável, que sintetizamos em uma expressão, o guedismo”

Curioso. O MBL ao atacar o liberalismo, tem em mente outro liberalismo tão morno quanto o que ele defendia antes: o chicaguismo do Paulo Guedes. O mesmo Guedes que defendeu imposto sobre o “pecado” e protecionismo para o varejo nacional?

Fica na cara que o MBL quer enganar os mais incautos que não conhecem sequer o verdadeiro liberalismo laissez faire. Aqui, o MBL parece incorrer no mesmo modus operandi da esquerda, de pegar o liberalismo morno da Escola de Chicago, também conhecido como neoliberalismo, e vendê-lo como o liberalismo mais radical possível.

O mesmo “liberalismo” que defende estatismos como voucher estudantil, blocos econômicos, bancos centrais e renda mínima universal. Bandeiras que o MBL levantou por anos como símbolos (falsos) do liberalismo.

Há de fato o que se criticar no liberalismo clássico, principalmente por sua defesa na manutenção de um estado, mesmo que limitado. Como foi apontado por autores libertários como Hans-Hermann Hoppe e Jesus Huerta de Soto. Mas mesmo o liberalismo clássico está muito longe do que Paulo Guedes ou o MBL tenham defendido em algum momento.

Industrialização via estado

No novo livro, o MBL afirma defender agora uma maior participação do estado na economia (o de sempre?) e que agora possui novas ideias sobre “a industrialização coordenada pelo Estado, o efeito do oligopólio bancário, financiamento da cultura, investimento em ciência e tecnologia e a importância da burocracia”.

No Livro Amarelo, o MBL afirma ter um foco maior na reindustrialização. Segundo o livro:

“O momento da indústria brasileira significou não apenas uma grande perda em valores na composição do nosso PIB. É também face à nossa perda de soberania e à nossa capacidade de sentar nas mesas com os grandes”

Neste trecho o MBL mostra sua semelhança com a esquerda e com os desenvolvimentistas, ao acreditar que a desindustrialização do Brasil se deve a uma menor participação do estado na economia, e não ao aumento do custo para se desenvolver indústrias justamente devido à intervenção estatal e suas consequências, como altos impostos, inflação, leis trabalhistas e burocracia.

E sempre aquele papo desenvolvimentista de “soberania”, enxergando não uma sociedade de indivíduos independentes, mas de um estado sendo tratado como um único indivíduo com um só interesse. Óbvio que também tal ideia de “soberania” é vista como capacidade do estado brasileiro negociar com outros estados. Foi isso que o MBL quis dizer com “sentar na mesa com os grandes”.

O MBL, como todo movimento estatista, não enxerga indivíduos negociando entre si, mas estados negociando entre si.

Alternativa à esquerda?

Já é de longa data que o MBL vem se vendendo como uma verdadeira alternativa à esquerda. E isso sempre propondo medidas não muito diferentes das propostas pela esquerda. Agora, o MBL mostra isso mais do que nunca, defendendo o estado como agente do progresso de todos os indivíduos da sociedade.

O MBL alega que a recente retomada do poder pela esquerda foi causada pelos anos de governo de Bolsonaro, e que o suposto liberalismo “radical” de Paulo Guedes causou uma tragédia econômica no Brasil que somente o estado poderia resolver e que a esquerda cresceu em cima desse discurso.

O MBL parece ignorar que grande parte da piora econômica se deu principalmente devido à paralisação da economia durante a pandemia do covid-19 que o próprio MBL tanto defendeu. Embora em parte a falta de uma verdadeira liberdade econômica por parte do governo Bolsonaro também tenha parcela de culpa.

Também é importante lembrar que a relativa melhoria econômica durante o governo Bolsonaro tenha permitido um superávit que possibilitou ao governo Lula iniciar suas políticas assistencialistas e demagógicas, que caras como são, demandaram até mesmo maior endividamento a ponto de gerar um déficit que não ocorria há anos.

E o MBL, ao invés de contrapor as pautas econômicas defendidas pela esquerda, as abraça como sua bandeira para o “progresso do Brasil”. As mesmas pautas defendidas desde a Era Vargas que apenas nos levaram a boons artificiais seguidos de hiperinflação e estagnação econômica.

Ou seja, o MBL ao invés de trazer algo novo e totalmente contrário ao establishment político-econômico, apenas traz as velhas falácias desenvolvimentistas que imperam na academia, mídia e política brasileiras, apenas com uma nova roupagem para tentar enganar os incautos.

E o mais curioso de tudo isso é que o MBL tenta vender suas ideias apresentadas no Livro Amarelo como algo completamente “novo” e “original“.

E é com isso que o MBL tenta se vender como verdadeira “alternativa” à esquerda, sendo apenas diferentes no tom e linguagem, mas não diferindo da esquerda mainstream em nenhum aspecto no que tange à economia e à política. No fim, o Livro Amarelo é apenas o Livro Vermelho do Mao, apenas com outra cor.


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