Onde está o meu livro? Deixei-o na cabeceira da cama. Alguém o pegou? Duvido! É pesado. Um box com dois livros em capa dura não é tão fácil de surrupiar.

Estou com sono. Tenho que me arrumar para ir ao trabalho.

Não é possível! Quem arrancou essa porta? Perder um livro é justificável, mas a porta do banheiro?! Aí já é apelação. Deve ter sido algum delinquente querendo tomar o que é dos outros.

O interfone tocando às 6 da manhã. Não vou atender. Tenho esse direito. Agora, quem instala um interfone num barco? Ainda mais num barco que comprei graças a ajuda do meu amigo Satoshi.

Devo estar sonhando. Esses acontecimentos não fazem sentido. Seja como for, ainda bem que passei no concurso da polícia federal. Em breve, serei pago para investigar esses marginais: ladrões de livros e portas.

Pedro, meu único amigo na empresa, me disse ontem, durante uma de nossas pausas para o café, que existe um sistema político onde nada é roubado, pois em tal sistema não existem donos. Mas parece que é preciso passar por um processo meio esquisito até chegarmos nesse paraíso.

Não é possível! Hoje não é o meu dia de sorte. Cadê o meu carro? Deixe ele aqui! Em frente ao quiosque. Ainda faltam dois anos de prestações a serem pagas. Bem que o dono da loja onde se vende quase tudo me disse: falta segurança nesse bairro; roubam tudo que conseguem.

Se eu correr ainda consigo pegar um ônibus até a empresa. Aliás, gostaria de saber como o seu Felipe, dono da loja onde se vende quase tudo, consegue manter o negócio com tantos impostos que o estado cobra dele.

O sol está começandoa a rair. Ontem choveu o dia todo. Detesto ir trabalhar em dias de chuva. O trânsito fica congestionado. Os semáforos não funcionam. A cidade vira um caos.

Hoje a noite tem jogo. Meu time está invicto. Tenho certeza que ganharemos a partida. Fácil. Três a zero, fora o show. Daqui a pouco entro no app de apostas esportivas para tentar a sorte. Já ganhei mais de 2 mil reais num único jogo. O que me deixou um tanto chateado foi ter perdido quase o triplo desse valor na aposta seguinte. Estava começando a pegar o jeito.

Nossa! Esse ônibus não chega nunca. O ponto aqui está lotado. Há pessoas me empurrando, tomando meu lugar na fila. Traidores! Me afastei por educação. Agora esse pessoal irá sentado durante a viagem e eu em pé.

Devia ser possível pagar a tarifa de ônibus com PIX. Um QR Code ao lado da catraca resolveria o problema do bilhete único sem crédito. Quero deixar claro que se o PIX acabar, eu desisto da vida. Não suporto pagar tarifas bancárias.

Ufa! O ônibus chegou. Podem entrar, malditos. Bando de viciados. Não podem ver um assento que já querem sentar.

Não havia notado essa propaganda, disposta na lateral do ônibus. Quem é esse cara no banner junto ao nome Konkin, posando ao lado dessa frase enorme: Esmague o Estado?

A prefeitura ter autorizado tamanha afronta circulando pela cidade é algo inédito. A sociedade está perdida.

Vou acessar o Instagram dessa editora para ver do que se trata. Uma hora no ônibus deve ser o suficiente para tal tarefa.

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A editora Konkin publica livros que nos ajudam a compreender a importância da liberdade, assim como a aplicá-la em nosso dia a dia. Fique por dentro dos lançamentos clicando aqui.

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