Consequências do top-down ambiental

O governo indiano, nas últimas três décadas, vem instalado painéis solares para a geração descentralizada de energia em locais com pouco ou nenhum acesso à rede. O governo espera com isso acelerar a transição do país para as energias renováveis, além de favorecer a população mais pobre. A realidade, no entanto, não é tão boa.

A velocidade de instalação foi muito maior do que a capacidade de manutenção dos equipamentos e a continuidade de sua operação pretendida. O governo é incapaz de realizar a manutenção de tantos painéis, em locais tão distantes e isolados. Deve-se lembrar, também, que inaugurações são mais politicamente chamativas que manutenções de rotina, e que a criação de novos problemas sempre será algo vantajoso para candidatos em eleição.

Apenas 5% das 3.300 pequenas centrais geradoras estão operacionais. Algumas pararam de funcionar com apenas alguns dias de operação. Quando a rede chega na localidade, os painéis são abandonados pela existência de alternativa mais barata e sem limitação de potência.

Os problemas não se limita à Índia. Em relatório de 2017, pesquisadores concluíram que apenas 3 das 29 instalações solares pesquisadas na África subsahariana permaneciam funcionais (os mais novos). A falta de mão de obra qualificada e baixa aceitação local foram problemas apontados. Porcentagens elevadas de falhas e inoperabilidade também são facilmente encontradas em países como Uganda e Nigéria.

A revolução verde da energia solar deve ser colocada em perspectiva. Muito se fala dos benefícios associados à instalação em massa de painéis, mas pouco se fala em sua baixa eficiência, que se reduz ainda mais em ambientes quentes, bem como os impactos associados à sua fabricação, que demanda atividade de mineração, transporte e combustível para refino. Também pouca relevância é dada aos milhões de painéis que, em algumas décadas, serão colocados em aterros ou simplesmente abandonados na natureza, onde lentamente despejarão seu conteúdo tóxico. Mesmo caso todos forem enviados para a reciclagem, a energia necessária para abarcar esse esforço de reciclagem monumental é apenas um mero detalhe terciário no discurso atual.

A energia solar é uma ótima alternativa para descentralizar a geração em pequenas comunidades ou dar maior nível de autonomia para os que não querem apenas depender da rede principal, mas, como tudo que a política toca, foi corrompida pela ideologia coletivista-parasitária. Não possui a real capacidade de “salvar o planeta”, nem é capaz de substituir a atual matriz energética de um país. A solução estatal para um problema acabou gerando consequências não previstas, além de criar adicionais ao meio ambiente e aos próprios indivíduos com quem disseram uma vez se importar. Quem diria.

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Gabriel Camargo

Autor e tradutor austrolibertário. Escreve para a Gazeta com foco em notícias internacionais.

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