Uma invasão russa em larga escala ao território da Ucrânia começou.
E isso afeta não só os países envolvidos, como também a Europa. Num mundo cada vez mais interconectado, somos propensos a avaliar primeiro as consequências militares e geopolíticas, mas existe toda uma cadeia de impactos que já podem ser previstas.
Como observado nas últimas notícias desta quinta-feira, o presidente russo Vladimir Putin comunicou a autorização de uma “missão militar especial”. Ele disse que suas tropas se concentrariam na região de Donbas, a parte do leste ucraniano que abarca as duas repúblicas separatistas pró-Rússia, que o Kremlin reconheceu como independentes na segunda-feira (21/02).
O objetivo da operação, segundo Putin, foi a “desmilitarização e desnazificação” da Ucrânia, e enfatizou que os conflitos entre forças russas e ucranianas eram “inevitáveis … apenas uma questão de tempo. Qualquer derramamento de sangue, ele declarou, seriam por mãos ucranianas.
Como já mencionado, a Rússia enfrentou uma condenação intensa pela comunidade internacional, os quais, Reino Unido, União Europeia e os Estados Unidos se alinharam para impor fortes sanções ao país. No entanto, cabe questionar: como essa crise vai afetar os mercados globais e o comércio internacional?
Sanções Econômicas
O presidente Joe Biden anunciou em uma entrevista de imprensa que preparou medidas iniciais de sanções contra a Rússia que incluem a proibição de instituições financeiras dos EUA de processar transações com grandes bancos russos, por exemplo, a VEB, o banco de desenvolvimento russo, além do banco militar russo (PSB).
Nessa linha, o primeiro-ministro Boris Johnson informou a “primeira barragem” das sanções do Reino Unido contra cinco bancos russos e três bilionários ligados a Putin em resposta ao aumento de risco de conflito.
Especula-se que o pacote de sanções da UE seja relativamente limitado e imposto a àqueles diretamente encarregados nas províncias de Donetsk e Lugansk que as tropas russas afirmam ter invadido.
Petróleo e Gás Natural
A tensão pode afetar o comércio de petróleo e gás natural, alimentos e metais essenciais. A Rússia está entre as maiores exportadoras de commodities ligadas à energia para toda Europa, por exemplo, o gás natural, petróleo e carvão. De acordo com dados da Eurostat, 20% da energia elétrica consumida pela União Europeia provém do gás natural. No primeiro semestre de 2021, a Rússia correspondia a 47% do fornecimento de gás natural.
Segundo dados de 2020 do site Statista, existem países 100% dependentes do fornecimento de gás russo, tal como Bósnia e Herzegovina, Macedônia do Norte e Moldávia. A Áustria tem dependência de 64%, Alemanha, 49%, Itália, 46% e França, 24%.
O chanceler alemão Olaf Scholz também suspendeu o processo de aprovação do gasoduto Nord Stream 2 de 10 bilhões de euros que deveria fornecer gás natural para as casas europeias durante o inverno.
Preços dos alimentos
O preço global de alimentos, os quais estão na década de alta, pode ser atingido, pois, a Rússia é o principal fornecedor de trigo no mundo. Com a Ucrânia, eles respondem por um quarto do total das exportações globais.
A Ucrânia exportou em 2020 mais de 18 bilhões de toneladas de trigo para diversos países, como a China e a União Europeia, dois clientes de relevância da produção de trigo ucraniana, e dados os desafios enfrentados, trariam problemas ainda mais agravantes.
Além disso, as exportações de grãos e frango ucranianas podem ser afetadas por bloqueios fronteiriços, ao passo que a produção de fertilizantes pode ser atingida, já que o Reino Unido depende do fornecimento do gás natural russo.
Bolsa de Valores
As ações russas sofreram a maior queda desde a crise econômica global em 2008, com o índice MOEX rússia rebaixando 14% e o índice RTS designado em dólar diminuiu em 17%.
A Bolsa de Valores Financial Times em Londres e a Dow Jones em Nova York também caíram, ao longo que a crise emerge pelos mercados globais.
O ouro, considerado a mercadoria de escape em tempos de dificuldades, alcançou o pico em 13 meses.
Como esses desafios na Europa influenciam o mundo?
Uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia (e remeteria os Estados Unidos, aliado dos ucranianos) pode agravar uma crise energética, visto que a oferta de petróleo continua em baixa ao nível global (sobretudo depois da pandemia). Assim, a oferta cairia ainda mais, dado que a Rússia é o terceiro maior produtor da commodity no mundo (atrás só da Arábia Saudita e dos EUA).
Com efeito, uma oferta inferior à demanda significa elevação de preços. Tornando o petróleo mais caro, o combustível fica caro na mesma escala.
Outro aspecto importante poderia ser observado no preço internacional das commodities agrícolas que esses países fornecem, visto que podem aumentar caso as exportações sejam interrompidas.
Os efeitos catastróficos de preços maiores de energia e alimentos podem culminar puxando a inflação por todo o globo, o que pressiona ainda mais os ciclos de contracionismo monetário (disparada de juros) no mundo.
Certamente, um palco de guerra, além de ser péssimo para os negócios em âmbito internacional por trazer imprevisibilidade (visto que a Rússia é a segunda maior potência nuclear e superpotência militar), desencadeia interrupções nas cadeias globais, pode gerar mais inflação e levar mais incerteza sobre a desaceleração econômica global.