Mercado, informação e Estado

O Mercado é fruto e expressão das ações dos indivíduos que interagem e cooperam pacificamente através da divisão de trabalho [1]. O estudo do funcionamento do mercado, em princípio, deve ter como base o estudo da estrutura lógica das ações humanas, a praxeologia [2].

Agir, como exposto por Mises, é alocar meios, de forma a buscar determinados fins, em busca de um estágio de satisfação superior ao que estivesse sem realizar determinada ação. Ao agir, só se sabe previamente que o ser humano obedece a estrutura lógica da ação humana. Quais ações em específico serão feitas, como serão conduzidas e quais fins os indivíduos buscarão alcançar são dependerão também de fatores externos [3].

Pode-se resumir esses fatores em três: capacidade, informação e juízos de valor. A capacidade se dá pela disponibilidade de recursos físicos e mentais para agir. A informação se dá pelas capacidades intelectuais, i.e., pela informação prévia de como realizar uma ação. Os juízos de valor são os filtros de “discriminação” do agente em relação às possibilidades e meios de ação. São eles que determinam o que e como algo deve ser feito, dadas as possibilidades existentes.

Pode-se perceber que a relação entre esses três fatores é larga e mútua. A capacidade nos remete à informação, enquanto a informação nos permite descobrir novas e melhores capacidades. Além disso, informações influenciam nos nossos juízos que, por sua vez, são feitos dentro das capacidades que temos.

Essas relações formam o mercado na medida em que o indivíduo é um ser empreendedor, pois toda ação é empreendedora [4]. Ele analisa e julga os meios que tem – através de suas informações tácitas -, utiliza-os da maneira que acreditar a serem mais úteis para alcançar os fins – também previamente julgados como mais importantes na busca pela obtenção de maiores satisfações.

Conclui-se daí que o mercado é uma rede anarquicamente coordenada de juízos, informações e capacidades; trabalhando, necessariamente, de forma cooperativa e mutuamente benéfica. Para que se obtenha recursos, é necessário antes oferecer algo que outro alguém esteja suficientemente disposto a obter.

O estado, como afirma Max Weber, é o monopólio da violência “legítima” [5]. Ele faz o que indivíduos não podem fazer sem serem declarados como criminosos: rouba, mata, sequestra e impõe arbitraria e unilateralmente seus caprichos sobre seus escravos, chamados eufemisticamente de cidadãos ou contribuintes. É um monopolista este que se sente insatisfeito em ter as próprias leis. Ele também quer comandar o mercado.

O mercado e o estado são antagônicos. Um surge anárquica e pacificamente. O outro é centralizado e coercitivo. São como água e óleo, não se pode colocá-los juntos sem que haja uma contaminação grave. Ao cobrar impostos, o estado causa danos, queima recursos dos indivíduos e distribui, de formas mistas, a renda – para isso partindo da força. Diminui, inevitavelmente, os recursos e poupanças daqueles que atuam no mercado.

Ao inflacionar, concentra renda artificialmente, distorce e atrapalha as práticas contábeis [6]. Ao subir a taxa de juros, inviabiliza os investimentos bons. Ao descê-la, faz com que aparentam ser viáveis os investimentos que não são. Ao criar cargos públicos, diminui as demandas pelo setor privado, atrai mão de obra e investimentos para si. Gera empregos não demandados pela população, desviando recursos que poderiam inovar os meios de produção. Ao criar regulações, impossibilita a tentativa e erro, diminui a velocidade de aprendizado – do que funciona ou não na economia de mercado – e afunila as ideias em direção a sua própria visão turva de mundo.

Quanto mais atua, mais distorce informações, os cursos dos recursos e o constante volume de novas informações que aprimoram e atribuem os rumos do mercado.

Referências bibliográficas

[1]: MISES, L. v. Ação Humana, São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2010, p.199.

[2]: MISES, L. v. Ação Humana, São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2010, caps 1 e 2. HOPPE, H. H. A Ciência Econômica e o Método Austríaco, São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2010. GARCIA, P. Hoppe e a Ciência Econômica de Mises. Voxbrasilis.com. Disponível em: <http://voxbrasilis.com/hoppe-e-a-base-economica-de-mises/> Acesso em: 18 de julho de 2018. GARCIA, P. Três Pilares da Economia Austríaca. Voxbrasilis.com. Disponível em: http://voxbrasilis.com/tres-pilares-da-economia-austriaca/. Último acesso em: 27 set 2018.

[3]: DE SOTO, J. Huerta. A Escola Austríaca, São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2010.

[4]: MISES, L. v. Ação Humana, São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2010.

[5]: WEBER, Max. A Política como Vocação. In: WEBER, Max. Ciência e Política, Duas Vocações. São Paulo: Editora Cultrix, 1996. p. 53-124.

[6]: ROTHBARD, M. N. Os efeitos econômicos da inflação. Rothbardbrasil.com. Disponível em: http://rothbardbrasil.com/os-efeitos-economicos-da-inflacao/ Acesso em 25 set 2018.


Escrito por: Paulo Garcia (@GauloParcia)

Revisado por: Paulo Droopy (@PauloDroopy)

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