Críticas ao Bitcoin e outras criptomoedas por parte do governo chinês já são algo comum. Dessa vez, a crítica veio de um site chinês que acusa o Bitcoin de ser “o maior esquema Ponzi da história”.
Bitcoin como “maior esquema de pirâmide da história”
Em um artigo publicado no site People.cn, o redator Shan Zhiguang He Yifan acusa o Bitcoin e outras criptomoedas de serem só mais uma forma de esquema de pirâmide, que enriquece os primeiros a entrarem no esquema a custas dos que entrarem depois, não sendo um ativo de riqueza real.
Segundo ele:
O que exatamente é moeda virtual?” O autor deste artigo acredita que a moeda virtual está se tornando o maior esquema Ponzi da história da humanidade.”
Antes de apontar as características que ele acredita que fazem do Bitcoin e das demais criptomoedas um esquema de pirâmide, o autor faz algumas acusações, como a de que é um mercado que gera várias moedas “sem valor real” e falta de confiabilidade neste mercado.
Sobre o primeiro ítem, importante frisar que como já ficou entendido desde a Revolução Marginalista, o valor de um bem está relacionado a capacidade de satisfazer a uma determinada demanda do agente. Esse ponto não será detalhado agora, pois o autor irá abordá-lo outra vez e será onde ele será abordado mais extensivamente.
O que pode-se dizer é que caso determinadas moedas não sejam mais valorizadas, ou os agentes não reconheçam mais valor nelas como moedas, simplesmente elas sairão de circulação. Caso muitos projetos fraudulentos, que prometem que certas moedas atinjam as expectativas dos agentes, falhem em sua missão, simplesmente serão abandonadas.
É verdade que no mercado de cripto, muitas moedas que não são tão boas foram valorizadas dada especulações exageradas sobre elas, e muitas sequer superam as veteranas no mercado. Em uma economia realmente livre, moedas serão postas a prova, e as que falharem sairão de cena, e isso não é uma exclusividade do mercado de criptomoedas, mas se aplica a qualquer bem ou serviço lançado no mercado.
Em seguida, ele aborda a questão da liquidez, acusando o mercado de criptomoedas de nem sempre ser transparente quanto muitos imaginavam e de haver muitas informações privilegiadas e brechas de segurança. O autor não foi muito claro, mas é possível imaginar que ele se refira a muitos casos envolvendo exchanges, onde ocorreram casos de calotes contra usuários. Mais uma vez, isso não é um problema derivado das criptomoedas em si, mas de uma má ação das empresas e indivíduos envolvidos neste mercado.
Tanto neste ponto abordado quanto no anterior, além dos mecanismos do mercado dificultarem cada vez mais casos como esse, uma aplicação de justiça eficiente cuidaria de punir os transgressores e haveria cada vez menos incentivo para esse tipo de prática. Infelizmente, dado o fato do estado monopolizar os serviços de justiça, se torna difícil punir devidamente os fraudadores, mas isso é um problema que se aplica a todo o mercado.
E finalmente, os pontos onde o autor acredita que evidenciem as criptomoedas como um esquema Ponzi.
Segundo o autor:
“Três, inútil. Seja comparada à moeda fundida pelo metal no sentido tradicional, ou à moeda de crédito emitida com o aval do crédito do Estado soberano nos tempos modernos, a moeda virtual não está vinculada a nada de valor, nem tem qualquer valor social do trabalho produtivo. Seu suporte de preço depende inteiramente de dois fatores decisivos: a confiança dos participantes atuais e o número de novos participantes subsequentes.
E isso é exatamente o mesmo que o modo básico de operação dos esquemas Ponzi – todos os esquemas Ponzi devem ter um fluxo constante de novos investidores para participar, para que todo o esquema possa ser mantido. Tomando emprestado um ditado popular na indústria de jogos, “Do ponto de vista do desenvolvimento da indústria de jogos, a primeira coisa importante é a jogabilidade, a segunda coisa importante é a visão de mundo e a terceira é a tecnologia”. a primeira A coisa mais importante é atrair novas pessoas, a segunda mais importante é atrair novas pessoas e a terceira mais importante é atrair novas pessoas. É também por isso que a operação de todos os projetos de moeda virtual é totalmente baseada em marketing, e o investimento técnico é quase insignificante.“
Antes de mais nada, o autor do artigo já erra ao creditar o valor das criptomoedas unicamente a confiança de que irão ser pagos com ela. Na verdade, é justamente a eficácia do Bitcoin e outras criptomoedas em servir como moeda e cumprir bem essa função, que leva os autores a valorizá-las como tal.
Diante da desvalorização constante das moedas fiduciárias (que o autor acredita superar as criptomoedas) as pessoas irão buscar meios de troca que mantenham ao máximo seu poder de compra, e as criptomoedas cumprem muito bem essa função, principalmente o Bitcoin.
Diferente das moedas fiduciárias, que podem ter sua oferta aumentada facilmente pela impressão de mais cédulas de papel, o Bitcoin possui uma verdadeira escassez, uma vez que a cada halving (aproximadamente 4 anos), a quantidade de Bitcoin a ser produzido será reduzida pela metade, até que não haja mais nenhum Bitcoin a ser minerado, alcançando o máximo de 21 milhões de unidades
Com sua escassez real, o Bitcoin não corre o risco de desvalorização como ocorre com a moeda fiduciária, que a cada impressão sem um acompanhamento correspondente de riqueza perde seu poder de compra. Pelo contrário. Mantendo sua oferta constante, o Bitcoin segue o caminho oposto com cada fração sua valorizando cada vez mais na medida em que a sociedade gera mais riqueza.
Sobre valor, o autor ainda peca citando Karl Marx e se baseando nele para julgar o valor das criptomoedas afirmando que apenas bens que são produtos de trabalho, podem ter valor de fato.
Como já dito antes, com a Revolução Marginalista ficou entendido que o valor dos bens não está em qualquer característica física ou no trabalho envolvido em sua produção, mas na valorização dada a eles pelo consumidor, que percebe o bem como capaz de satisfazer uma de suas demandas
Como as criptomoedas cumprem bem a função demandada pelos agentes como uma boa moeda (escassez, durabilidade, divisibilidade, etc) tenderá cada vez mais a ser valorizada dessa forma pelos agentes.
Fora que mesmo na perspectiva marxista (por mais errada que fosse) o Bitcoin teria valor, pois o mesmo é fruto do trabalho dos mineradores. Ou esse ponto é ignorado pelo autor do artigo ou ele o omitiu maliciosamente.
Tendo isso em mente, fica claro que o Bitcoin e muitas criptomoedas não são um esquema de pirâmide, uma vez que possuem as características necessárias que fazem delas uma boa moeda, como foi apresentado por Satoshi Nakamoto. Diferente dos esquemas de pirâmide que se sustentam em falsas promessas de retorno financeiro sem fundamento em nenhum ativo de valor, as criptomoedas são recursos criados com a finalidade de servirem como moeda e em muitos casos já cumprem essa função e cumprirão cada vez mais na medida em que mais pessoas as reconhecerem como moedas superiores as moedas fiduciárias.
Se há especulação em cima da valorização das criptomoedas, se deve apenas ao fato da valorização delas por aqueles que aderem a elas as vendo como potenciais moedas. A valorização em questão acaba atraindo especuladores, que muitas vezes as vêem como um ativo de risco e retorno alto, o que não anula seu potencial como moeda.
O uso das criptomoedas por muitos como um ativo para especulação é um mero efeito acidental que não tem relação alguma com a função para a qual ela foi criada.
O verdadeiro maior esquema de pirâmide da história
Ao contrário do que o autor tenta fazer crer, o Bitcoin e as criptomoedas não são um esquema de pirâmide, menos ainda o maior deles. O próprio estado está por trás do maior esquema Ponzi que já existiu na história: a inflação.
Como já explicado pelo próprio autor, esquemas de pirâmide consistem em esquemas fraudulentos, onde os iniciadores do golpe ganham as custas de novos entrantes. É feita uma promessa de retorno financeiro, com a condição de que adiantem um determinado valor. Na medida que novas pessoas entram, os que entraram antes vão ganhando o dinheiro dos novos entrantes, e como quem indica ganha uma porcentagem em cima do que cada convidado ganha, quanto mais alto alguem estiver na hierarquia, mas irá ganhar, pois ganhará em cima dos seus convidados, que ganharão em cima dos convidados dele e assim sucessivamente. Enquanto os que iniciaram o esquema são os mais beneficiados, os que forem entrando ganharão cá vez menos, na medida em que for mais difícil conseguir novos entrantes. Quando não houver mais ninguém para convidar, será impossível manter o esquema fraudulento, que em breve irá colapsar.
E é assim que basicamente funciona a inflação.
Ao contrário do que muitos neoclássicos pensam a inflação não é aumento generalizado dos preços, mas aumento da oferta de dinheiro sem aumento correspondente de riqueza. O aumento generalizado dos preços é consequência da desvalorização da moeda resultante deste processo.
No caso a expansão da oferta monetária pelo banco central, o estado primeiro distribui esse novo dinheiro entre políticos e burocratas e como empréstimo as empresas apadrinhadas ao estado. Com o dinheiro extra, os primeiros recebedores aumentam seu poder de compra podendo consumir mais da riqueza já existente.
Como não há um aumento de riqueza, a oferta de produtos disponíveis é reduzida, mas a demanda por eles permanecem. Quando esse dinheiro extra chega nas mãos dos últimos recebedores (geralmente trabalhadores assalariados e pequenas e médias empresas não apadrinhadas com o estado), eles recebem ele com o poder de compra reduzido, já que agora há uma oferta menor de bens mas com a mesma demanda por eles de antes com uma oferta de dinheiro maior. Sendo assim, é preciso mais dinheiro para comprar os mesmos bens que antes.
Esse processo implica em um enriquecimento dos primeiros recebedores as custas do empobrecimento dos recebedores posteriores. Como se vê, é o estado por meio da inflação, que está por trás do maior esquema Ponzi da história, por que diferente dos demais esquemas de pirâmide, este atinge toda a sociedade, pois o curso forçado da moeda fiduciária pelos estados obrigada a todos os agentes a participarem este esquema.
Este mesmo processo também é o facilitador da formação de bolhas, que levam a especulações infundadas de ativos, como os casos que o autor citou, no caso a crise do subprime no ano de 2008. Muitos empreendimentos que seriam vistos como inviáveis pela falta de recursos começam a parecer viáveis graças a ilusão de dinheiro extra. Investimentos infundados que dificilmente se sustentariam, também são facilitados pelo dinheiro extra.
No entanto, ele mesmo esqueceu de mencionar a mais recente bolha em seu próprio país, a Evergrande, cujo o governo chinês vinha subsidiando para impedir o colapso, mas vendo que mantê-la seria inviável, resolveu permitir sua falência.
Consequentemente, muitos investidores serão fortemente atingidos por isso, e tal caso pesará bastante sobre a China, já que muitos negócios e investimentos estavam apoiados na gigante chinesa.
Bitcoin é superior a moeda fiduciária
O autor tenta apontar a moeda fiduciária como superior ao Bitcoin e as demais criptomoedas pela suposta “confiabilidade” que as pessoas depositam na primeira. No entanto, como já foi demonstrado acima, as moedas fiduciárias são justamente parte do esquema Ponzi que sustenta o estado e empobrece a população. A única coisa que faz as pessoas acreditarem que a moeda fiduciária sempre será aceita como moeda em qualquer transação é seu curso forçado pelo estado.
Isso não é fruto de uma valorização voluntária dos agentes, mas da imposição estatal. As pessoas só estão acostumadas. Se fossem livres para escolher, na medida em que vissem a moeda fiduciária como uma moeda que tende a se desvalorizar, imediatamente iriam procurar moedas substitutas, como já acontece com a população da Nigéria ao aderir ao Bitcoin, enquanto sua moeda local é destruída pela inflação.
Diferente das moedas fiduciárias, o Bitcoin não corre o mesmo risco de perder seu poder de compra e nem pode ter sua oferta manipulada pelo estado, sendo esse o motivo principal do estado quererem ora proibi-lo, ora regulá-lo. No entanto, nenhuma ação que o estado tente poderá deter o Bitcoin, e quanto mais pessoas se derem conta disso e migrarem para ele, mais rápido o sistema monetário atual e o estado cairão.
Conclusão
O artigo de He Yifan é só mais um vários ataques de “especialistas” que querem vender a falsa idéia de que o Bitcoin é uma fraude e de que o sistema monetário estatal vigente é superior e mais confiável, quando o que ocorre é justamente o contrário.
Além dele tentar sustentar sua argumentação na teoria falha de Marx sobre valor, ainda ignora que o próprio sistema que ele defende permitiu a formação de uma das maiores bolhas do mercado, cujo colapso já vem abalando a economia chinesa.
Enquanto seus detractores desesperados anunciam seu fim, o Bitcoin segue forte, para maior desespero dos políticos e burocratas.
- Quer ficar mais esperto e não cometer o erro de He Yifan ? Então leia nosso guia essencial sobre criptomoedas e saiba a importância delas para sua vida!
Criptomoedas muito usadas pelo Crime Organizado,terroristas,corruptos,etc.
Para classe méida e trabalhadores representa somente uma forma de perder mais o poder de compra,vai ser boa aposta quando conseguirem um lastro economico razoavel para garantir que a perda vai ser recuperada e acabar com as fraudes,como vemos muitos casos,mesmo com criptografia e tudo mais é um perigo para os despreparados.