Os cristãos na política americana argumentam há anos que Deus endossa a agenda política dos republicanos ou democratas. Mas será que existe uma terceira maneira de pensar sobre a relação entre Deus e o governo?

Cristãos à esquerda e à direita estão se voltando cada vez mais para o libertarianismo, não porque seja um “meio termo”, mas porque é uma maneira totalmente diferente de pensar sobre o governo e o poder.

A Regra de Ouro

O cerne do libertarianismo é o princípio da não agressão, que afirma ser imoral a iniciação da força contra uma pessoa e sua propriedade e, em muitos aspectos, é uma espécie de consequência política da Regra de Ouro.

Assim, os libertários cristãos pensam que o poder do governo deve ser limitado, o dinheiro sólido e os mercados verdadeiramente livres devem retornar, a guerra agressiva deve cessar e as liberdades civis devem ser preservadas.  

Apesar das objeções levantadas por outros cristãos, muitos libertários cristãos encontraram um amigo representante no Congresso do Texas, candidato presidencial e cristão de longa data, Dr. Ron Paul, pois ele também acredita nesses princípios importantes.

A Liberdade Não Anula o Mal

O libertarianismo trata a natureza pecaminosa do homem de forma realista. James Madison fez a famosa piada de que se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário.

Os libertários cristãos vão um passo além, dizendo que é justamente pelo fato dos homens não serem anjos que o governo deve ter poderes extraordinariamente limitados.

Deus não mostra favoritismo nem dá privilégios a uma pessoa baseado na posição que ela ocupa. Todos são responsáveis ​​perante a lei moral da mesma maneira.

Quando os governos e os políticos estendem seu poder para que possam restringir os direitos naturais das pessoas com impunidade, eles cruzaram a linha da imoralidade.

A mensagem do deputado Paul é que o governo dos Estados Unidos tem ultrapassado essa linha há décadas e o remédio é seguir a Constituição.

Libertários e Cristãos Desconfiam do Estado

Os fundadores criaram a tentativa mais ousada da história de limitar o poder do estado, mas presidentes e congressistas, tanto republicanos quanto democratas, repetidamente se recusam a aderir às suas próprias regras.

É verdade que uma mudança duradoura só pode ser encontrada na redução do poder do governo federal.

Os libertários falam muito sobre economia, e com razão. O dinheiro é fundamental para uma economia saudável. Os cristãos também se preocupam com dinheiro. Na verdade, Deus fala frequentemente sobre dinheiro na Bíblia.

A advertência de Deus contra “pesos e medidas” injustos em Levítico 19 é uma advertência para não adulterar o ecossistema do mercado, do dinheiro e do comércio.

O deputado Paul também reconhece a preocupação da Bíblia com o dinheiro honesto em seu livro O Fim do Fed – por Que Acabar Com o Banco Central : “A Bíblia deixa claro que alterar a qualidade do dinheiro é um ato imoral…é a desonestidade no dinheiro que tem sido a principal fonte do mal ao longo da história.”

Se o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, como diz 1 Timóteo 6:10, quanto mais seriamente devemos levar a forma como nossa sociedade vê o controle sobre o suprimento de dinheiro?

Se é verdade, como muitos libertários afirmam, que o Federal Reserve é a principal causa da crise econômica que temos hoje, então a única solução é restaurar o dinheiro-mercadoria honesto e sólido, livre de maquinações políticas e interesses especiais.

O Libertarianismo Busca a Paz Entre os Indivíduos

É realmente lamentável que as igrejas americanas modernas pareçam pensar que os meios do estado de “espalhar a democracia” por meio de guerras agressivas são mais importantes do que espalhar a mensagem pacífica do Evangelho de Cristo.

Jesus veio trazer “paz à terra, boa vontade aos homens” e, por extensão, o objetivo do cristão deve ser o mesmo. O deputado Paul escreveu em Liberty Defined: “É um exagero e uma grande distorção usar o cristianismo de qualquer forma para justificar a agressão e a violência”.

A guerra mata inocentes, destrói propriedades e leva nações à falência. Os libertários cristãos acreditam que uma política externa não intervencionista de paz, comércio e amizade honesta é mais consistente com a forma como Deus espera que interajamos com os vizinhos do mundo.

Chamados à Liberdade

Os libertários pensam que todos devem ser livres para fazer o que quiserem, desde que não infrinjam os direitos dos outros.

Os cristãos podem reconhecer a importância deste princípio simplesmente observando a história, reconhecendo quantas vezes outros cristãos foram impedidos de praticar sua religião como suas consciências exigiam deles.

Se não dermos aos outros a liberdade de viverem suas vidas como quiserem, como podemos esperar receber a mesma liberdade de fazer o que escolhemos?

O deputado Paul explica que o governo não torna as pessoas boas em sua obra The Revolution: “A lei não pode transformar uma pessoa perversa numa outra virtuosa… Somente a graça de Deus pode realizar tal coisa.”

Quebrando as Correntes

Deus nos criou para sermos livres para cumprir os ditames da consciência. Não podemos continuar exigindo o controle do estado para restringir a atividade pessoal das pessoas e, ainda assim, presumir que nossa liberdade está segura.

Por meio do libertarianismo, muitos cristãos encontraram uma maneira de superar suas crenças anteriores sobre política e abraçar uma filosofia política mais consistente e bíblica. A mensagem de abolir o poder do governo é poderosa por si só. 

Em Ron Paul, muitos libertários cristãos veem um líder que aponta para princípios que conservadores e liberais há muito esqueceram:

“Um sistema de governo sem limites, se não for controlado, destruirá a produção e empobrecerá a nação. A única resposta é entender melhor a economia e os sistemas monetários, bem como as políticas sociais e externas, com a esperança de que eles mudem assim que ficar claro que as políticas governamentais são uma ameaça para todos nós”.

O libertarianismo não vai desaparecer e certamente ocupará um lugar cada vez mais proeminente na discussão política dos cristãos nos próximos anos.

____________________________

Artigo escrito por Dr. Norman Horn, publicado em LCI, traduzido e adaptado por Billy Jow.

Uma resposta para “Um Cristão Pode Ser Libertário?”

  1. Avatar de Rodrigo
    Rodrigo

    Não estou podendo comentar pelo plugin do Telegram agora, mas já vou antecipar aqui minha resposta ao usuário “Fogo”:

    Não há contradição alguma entre os ensinamentos de Jesus (a base do cristianismo ) e o libertarianismo. Não há nada nos ensinamentos de Jesus que incentive violação do PNA. A passagem citada pelo comentador não tem nada que endosse uma relação entre cristianismo e política. Na vdd foi trata de um contexto onde Jesus é questionado pelos fariseus se é lícito pagar impostos aos romanos. Os fariseus queriam colocá-lo em uma emboscada, o acusando de rebelião contra o império romano. Jesus soube se livrar da emboscada com a máxima “dai a Cezar e o que é de Cezar e dai a Deus o que é de Deus.

    Isso fez os cobradores de impostos presentes entenderem que já que naquelas moeda estava estampada o rosto de Cézar, que devolvam a ele. Mas se por um lado há a o entendimento dos cobradores de impostos, há o entendimento real desta mensagem, como fica evidente em outra passagem onde Jesus deixa claro que sendo Deus senhor de todas as coisas, eles, seus filhos, não devem nada a ninguém.

    Isso inclusive está no mesmo livro que o comentarista citou. Mais precisamente em Mateus 17:24-27:

    “24 E, chegando eles a Cafarnaum, aproximaram-se de Pedro os que cobravam as didracmas e disseram: O vosso mestre não paga as didracmas? 25 Disse ele: Sim. E, entrando em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra os tributos ou os impostos? Dos seus filhos ou dos alheios? 26 Disse-lhe Pedro: Dos alheios. Disse-lhe Jesus: Logo, estão livres os filhos. 27 Mas, para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o e dá-o por mim e por ti.”

    Segundo o evangelista ” ainda não era sua hora”. Por isso até ali ele havia evitado qualquer coisa que pudesse levá-lo q execução antecipadamente.

    Mas ainda há sua outra afirmação, a de que a aliança entre cristianismo e estado foi a mais frutífera. Nada mais longe da verdade. E nada como a própria história da política na Europa para constatar isso. A não ser que o comentarista tenha se baseado na narrativa progressista que ainda predomina nas instituições de ensino e nos livros didáticos sobre o assunto. Eu só não entendo pq ele também não pega também a tese progressista de que o capitalismo causou a crise de 1929. Me parece que ele só pega os trechos da narrativa progressista que lhe convém, como se estivesse em um self service.

    Mas continuando:

    Não. O cristianismo não formou com o estado a aliança mais frutífera da política. O estado moderno, que inclusive começou com reis absolutistas disputando influência com bispos e o Papa, supera de longe qualquer influência que a Igreja Católica teve na Idade Média.

    Na Idade Média o poder era muito mais descentralizado que hoje. E mesmo que cada senhor feudal tivesse poder sobre seu feudo, não era incomum camponeses migrarem para regiões com maior liberdade, principalmente as cidades livres ou comunas (não tem nada a ver com o sentido comunista moderno). Isso inclusive impulsionou o renascimento urbano e comercial durante a Baixa Idade Média.

    Mesmo que bispos e o Papa tivessem certa autoridade sob seus respectivos territórios, o que se aplicava aos reis e senhores feudais se aplicava a eles. Mesmo que o cristianismo católico tivesse influência a nível quase continental e servisse de unidade para a já descentralizada sociedade medieval, esse poder era limitado. Com exceção dos abusos de certas autoridades eclesiásticas, há uma série de mitos e exageros em torno da Igreja e da Idade Média.

    Ainda sobre a evolução da política de lá pra cá: com o advento dos governos seculares republicanos e democráticos (com o governo americano sendo uma das raras exceções, pelo menos até a Guerra Civil ) a coisa piorou. O estado se expandiu em poder e influência muito mais. E só vem crescendo. Apenas a narrativa progressista tenta nos inculcar a ideia de que estamos na melhor época em todos os sentidos.

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1 Comment
  • Rodrigo
    Rodrigo
    fevereiro 24, 2023 at 1:52 pm

    Não estou podendo comentar pelo plugin do Telegram agora, mas já vou antecipar aqui minha resposta ao usuário “Fogo”:

    Não há contradição alguma entre os ensinamentos de Jesus (a base do cristianismo ) e o libertarianismo. Não há nada nos ensinamentos de Jesus que incentive violação do PNA. A passagem citada pelo comentador não tem nada que endosse uma relação entre cristianismo e política. Na vdd foi trata de um contexto onde Jesus é questionado pelos fariseus se é lícito pagar impostos aos romanos. Os fariseus queriam colocá-lo em uma emboscada, o acusando de rebelião contra o império romano. Jesus soube se livrar da emboscada com a máxima “dai a Cezar e o que é de Cezar e dai a Deus o que é de Deus.

    Isso fez os cobradores de impostos presentes entenderem que já que naquelas moeda estava estampada o rosto de Cézar, que devolvam a ele. Mas se por um lado há a o entendimento dos cobradores de impostos, há o entendimento real desta mensagem, como fica evidente em outra passagem onde Jesus deixa claro que sendo Deus senhor de todas as coisas, eles, seus filhos, não devem nada a ninguém.

    Isso inclusive está no mesmo livro que o comentarista citou. Mais precisamente em Mateus 17:24-27:

    “24 E, chegando eles a Cafarnaum, aproximaram-se de Pedro os que cobravam as didracmas e disseram: O vosso mestre não paga as didracmas? 25 Disse ele: Sim. E, entrando em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra os tributos ou os impostos? Dos seus filhos ou dos alheios? 26 Disse-lhe Pedro: Dos alheios. Disse-lhe Jesus: Logo, estão livres os filhos. 27 Mas, para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o e dá-o por mim e por ti.”

    Segundo o evangelista ” ainda não era sua hora”. Por isso até ali ele havia evitado qualquer coisa que pudesse levá-lo q execução antecipadamente.

    Mas ainda há sua outra afirmação, a de que a aliança entre cristianismo e estado foi a mais frutífera. Nada mais longe da verdade. E nada como a própria história da política na Europa para constatar isso. A não ser que o comentarista tenha se baseado na narrativa progressista que ainda predomina nas instituições de ensino e nos livros didáticos sobre o assunto. Eu só não entendo pq ele também não pega também a tese progressista de que o capitalismo causou a crise de 1929. Me parece que ele só pega os trechos da narrativa progressista que lhe convém, como se estivesse em um self service.

    Mas continuando:

    Não. O cristianismo não formou com o estado a aliança mais frutífera da política. O estado moderno, que inclusive começou com reis absolutistas disputando influência com bispos e o Papa, supera de longe qualquer influência que a Igreja Católica teve na Idade Média.

    Na Idade Média o poder era muito mais descentralizado que hoje. E mesmo que cada senhor feudal tivesse poder sobre seu feudo, não era incomum camponeses migrarem para regiões com maior liberdade, principalmente as cidades livres ou comunas (não tem nada a ver com o sentido comunista moderno). Isso inclusive impulsionou o renascimento urbano e comercial durante a Baixa Idade Média.

    Mesmo que bispos e o Papa tivessem certa autoridade sob seus respectivos territórios, o que se aplicava aos reis e senhores feudais se aplicava a eles. Mesmo que o cristianismo católico tivesse influência a nível quase continental e servisse de unidade para a já descentralizada sociedade medieval, esse poder era limitado. Com exceção dos abusos de certas autoridades eclesiásticas, há uma série de mitos e exageros em torno da Igreja e da Idade Média.

    Ainda sobre a evolução da política de lá pra cá: com o advento dos governos seculares republicanos e democráticos (com o governo americano sendo uma das raras exceções, pelo menos até a Guerra Civil ) a coisa piorou. O estado se expandiu em poder e influência muito mais. E só vem crescendo. Apenas a narrativa progressista tenta nos inculcar a ideia de que estamos na melhor época em todos os sentidos.

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