A pesquisadora Michele Prado, que até então fazia parte de um grupo de pesquisa da USP, desmentiu afirmações da jornalista Daniela Lima, da Globo, e do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do Brasil, Paulo Pimenta, de que a pesquisa do grupo citava aumento de fake news durante a tragédia no Rio Grande do Sul. Após a exposição, a pesquisadora foi estranhamente desligada da USP.

O episódio

Durante uma edição da Globo News, a jornalista Daniela Lima usou uma pesquisa da USP para afirmar que 31% das publicações no X com as palavras-chave “Rio Grande do Sul” ou “tragédia” entre as 10h e 14h de hoje aderiam ao discurso de que o governo e entidades governamentais não só não estariam se empenhando em ajudar a população como estariam criando obstáculos.

Ela também afirmou que todas estas afirmações, segundo o estudo, seriam “fake news”. O estudo foi feito pelo grupo de pesquisa da USP, Monitor Digital, e foi realizado sob orientação do professor Pablo Ortellado.

O ministro da Comunicação, Paulo Pimenta, também compartilhou essa mesma afirmação em seu sua conta no X:

A fake news de Daniela Lima e Paulo Pimenta

No entanto, a pesquisadora Michele Prado, que fez parte da equipe de pesquisa, e que participou inclusive desta mesma pequisa, corrigiu a afirmação da jornalista. Ela esclareceu que a pesquisa não contabilizava fake news, e sim, o número de declarações anti-governo e anti-institucionais. Inclusive, no próprio estudo, é mostrado que entre as declarações anti-governo e ant-institucionais, além daquelas que se mostraram fake news, também haviam declarações baseadas em fatos.

A correção foi feita em respota a um tweet do ministro da Comunicação, Paulo Pimenta, que repetiu as mesmas afirmações de Daniela Lima:

Abaixo, uma transcrição na íntegra do estudo citado:

“Durante a crise humanitária causada pelas cheias no Rio Grande do Sul em maio,milhares de mensagens tomaram as mídias sociais e os aplicativos de mensagens com o discurso de que o Estado brasileiro (governo federal, governo estadual e entidades governamentais) não apenas não estaria fazendo o suficiente, como estaria criandoobstáculos para as doações e as ações de resgate da sociedade civil. Fiscais nas estradas estariam barrando doações, pedindo notas fiscais dos produtos, fiscais da ANVISA estariam criando embaraço para doações de remédios e policiais e militares estariam impedindo lanchas e jet-ski de fazerem resgates por falta de licença.

A profusão de mensagens indicava que o fenômeno era muito significativo. Para entender a extensão e alcance do discurso, classificamos manualmente uma amostra de duas mil mensagens do Twitter com as palavras-chave “Rio Grande do Sul” e/ou“Tragédia” publicadas entre as 10 horas e as 14 horas do dia 10 de maio de 2024. Para cada mensagem, verificamos manualmente se o conteúdo reiterava o discurso antiestatal / antigoverno e descobrimos que 31% das mensagens adotavam essa perspectiva. Consideramos um percentual muito expressivo já que as demais mensagens não adotavam necessariamente uma perspectiva diversa, mas tinham apenas outra natureza: eram, por exemplo, lamentos pela devastação causada pelas chuvas ou chamadas para doações e voluntariado. Algumas das mensagens que classificamos como aderentes ao discurso antiestatal / antigovernamental tinham conteúdo opinativo e outras tinham conteúdo factual – e alguns dos fatos alegados nas mensagens foram desmentidos por agências profissionais de verificação. Apesar disso, não medimos neste estudo opercentual de mensagens com alegações factuais que foram contestadas pelas agências de verificação.

Autores: Ergon Cugler de Moraes Silva, Pablo Ortellado, Girliani Martins da Silva, Débora Leite, Michele Prado e Camila Pimenta”

Para conferir o estudo, clique aqui

Michele também afirma que recebeu ofensas da jornalista Daniela Lima em sua conta do Whatsapp:

Gabinete do Ódio de Janja

Além de expor a fake news de Daniela Lima e Paulo Limenta, Michele afirmou que havia um “gabinete do ódio” dirigido pela primeira dama, a Janja, e que esse seria o mais perigoso gabinete do ódio que já existiu. Ela também afirma que este mesmo grupo influencia as pautas adotadas pelo governo, o debate público e o que é abordado pela imprensa:

Quem é Michele Prado?

Designer de interiores, Michele Prado chegou a fazer forte oposição a Lula e ao PT no passado, apoiando o impecthmant da Dilma e chegando a até mesmo votar em Bolsonaro em 2018. Após isso, Michele se afastou do bolsonarismo da qual fazia parte e passou a fazer pesquisas por conta própria e associar o bolsonarismo a extrema direita internacional. Mais especificamente a alt-right.

Obviamente que uma análise honesta, tanto do bolsonarismo quanto da alt-right, mostra que ambos os grupos possuem muito pouco em comum. Provavelmente Michele foi fortemente influenciada pela narrativa esquerdista de colocar todos os opositores em uma mesma caixinha.

De toda forma, a crescente popularidade de Michele fez com que ela fosse bastante requisitada até mesmo para dar entrevistas na Globo News. Ela chegou até mesmo a integrar uma equipe de pesquisa sobre comunicação social voltada para questões políticas, chamada Monitor Digital, da qual foi demitida recentemente.

Michele chegou até mesmo a votar em Lula em 2022, acreditando que ele evitaria a “radicalização política” no país. O que não parece ser mais sua opnião.

Repercussão

A grande mídia em grande parte tem evitado comentar sobre o episódio envolvendo Daniela Lima e Paulo Pimenta. Entretanto, sites mais inclinados a direita e ao centro vem comentando sobre o caso e reconhecendo nele um indício claro de conluiu da Rede Globo com o governo Lula.

Entre os sites de esquerda, um dos poucos a comentar sobre foi o Diário do Centro Mundo, que tentou fazer pouco caso da situação e não focar no ponto principal apontado por Michele. Preferiu apenas tentar deslegitimar seus apontamentos apelando para seu passado político.

Para ser justo, o site também chama a atenção para as acusações sem provas que ela fez, sobre o gabinete do ódio de Janja, e as ofensas de Daniela Lima em seu privado. O último caso não é nada improvável, levando em conta o fato de que Michele foi desligada da USP justamente após desmentir Daniela Lima em público.

Quanto a acusação contra Janja, o deputado Nikolas Ferreira convidou Michele para ir até Brasília esclarecer esta alegação e apresentar provas que confirmem que Janja realmente dirige um gabinete do ódio que estaria influenciando a política e o debate público no país. Em um primeiro momento Michele rejeitou o convite mas no fim acabou aceitando:

Devido a intensa hostilidade contra Michele, principalmente por parte da esquerda, a ex-pesquisadora preferiu fechar sua conta no X somente para seguidores. A Rede Globo não se manifestou sobre o caso até este momento.

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