Trinta anos depois dos protestos na Praça Tiananmen, o governo chinês ainda está trabalhando para remover qualquer traço do evento de sua história cultural.

No início deste mês, um fã de música escreveu: “Eu não ouso dizer isso, nem me atrevo a perguntar” em um popular fórum online chinês sobre o desaparecimento de Li Zhi, um músico chinês que se atreveu a falar sobre questões sociais e a democracia.

Três meses atrás, a turnê de Li foi cancelada inesperadamente, suas contas nas mídias sociais ficaram offline e toda a sua discografia foi apagada das plataformas de streaming de música da China. Esse “fantasma” involuntário não está isolado: o governo chinês vem reprimindo artistas e ativistas como Li em preparação para o 30º aniversário dos protestos pró-democracia ma Praça da Paz Celestial que ocorreram em 4 de junho de 1989. Segundo o reportado, o Partido Comunista deteve dezenas de ativistas e artistas que mencionaram as atrocidades do massacre.

Não é surpresa que o governo chinês nunca tenha reconhecido esse dia ou os milhares de civis que foram baleados e mortos nas mãos de seu exército. Isso não é incomum para países com sistemas e regimes de um partido que desejam controlar informações. Mas enquanto tenta apagar a memória coletiva dos protestos da Praça da Paz Celestial, artistas e ativistas como Li estão lutando para lembrar – para garantir que algo tão sombrio nunca aconteceria nas mãos de um órgão governante novamente.

A censura do gigante tecnológico

Infelizmente, os gigantes da tecnologia nos Estados Unidos fundamentalmente auxiliam na privação de direitos de criadores como Li – e, portanto, na supressão da democracia. No início da primavera, a Hong Kong Free Press informou que a Apple Music havia removido a música do cantor Jacky Cheung, de Hong Kong, por sua referência à Praça Tiananmen:

“Os jovens estão com raiva, os céus e a terra estão chorando
Como nossa terra se tornou um mar de sangue?
Como o caminho para casa se tornou um caminho sem volta?”

Os cantores pró-democracia Anthony Wong e Denis Ho também foram removidos da Apple Music na China. A Apple App Store removeu os aplicativos de sua oferta chinesa que discutiam os protestos da Praça da Paz Celestial, incluindo o New York Times, o Radio Free Asia e o Tibetan News. O Twitter recentemente se recusou a aprovar um emoji que marca o 30º aniversário dos protestos. A Microsoft e o LinkedIn evitam falar sobre suas políticas na China com a mídia. Você entendeu a sacada.

A indústria de tecnologia tem falhado com artistas como Li Zhi, Jacky Cheung, Anthony Wong e Denis Ho, ajudando na supressão da informação e liberdade de expressão.

Se os EUA são verdadeiramente uma nação que valoriza a democracia, a liberdade e a humanidade – a indústria de tecnologia deve exercer seu poder para combater a censura.

Serviços centralizados vs. descentralizados

Neste momento, os serviços de música não podem – e não irão – proteger as vozes dos artistas em todo o mundo porque os interesses dos poderosos quase sempre sobressaem em relação aos dos criadores em serviços centralizados. É por isso que devemos colocar o poder de volta nas mãos das pessoas usando serviços descentralizados e tecnologia blockchain.

Como empresas como a Apple Music são centralizadas, elas devem cumprir as regulamentações locais para permanecerem operacionais, por mais injusta que seja a regulamentação. Isso significa que eles rapidamente e prontamente sucumbem à pressão de censores de vários tipos, incluindo estados de partido único como a China. Os criadores de conteúdo não têm nada a dizer sobre como o conteúdo é usado ou se permanece disponível. Isso é verdade porque está acontecendo bem diante de nossos olhos.

A próxima geração de serviços de música deve usar tecnologia como blockchain para combater a censura. A descentralização do controle da distribuição de músicas e da propriedade de conteúdo dá aos artistas, fãs e membros da comunidade a liberdade de se expressarem e interagirem diretamente uns com os outros em seus próprios termos. Sem uma autoridade central – um governo ou corporação – uma rede descentralizada pode proteger os criadores controversos de serem silenciados. Enquanto isso, serviços centralizados como o Apple Music são obrigados a remover o conteúdo quando solicitado; com o controle descentralizado, ninguém seria capaz disso – a música de Li Zhi nunca teria sido derrubada e a história dos protestos pró-democracia da Praça Tiananmen nunca seria apagada.

Casos de uso

Isto não é apenas um sonho ou um manifesto. Empresas e projetos já estão usando blockchain para resolver alguns dos maiores problemas da indústria da música. Minha empresa, Audius, é um protocolo descentralizado de compartilhamento de músicas e o primeiro a oferecer uma experiência de música social que conecta diretamente artistas e fãs. A Open Music Initiative está usando blockchain para identificar criadores de música para que eles possam receber seus pagamentos de royalties. O Smackathon, uma competição criada por Pitbull, está trabalhando para levar os principais serviços de streaming descentralizados à música.

Música na blockchain

Então, o que exatamente música no blockchain significa? Como seria a indústria? Será uma comunidade descentralizada de artistas, fãs e desenvolvedores compartilhando e defendendo a música do mundo de acordo com os seguintes princípios:

  1. Descentralização: os membros da rede irão operá-la mantendo o controle de seus dados. Sem autoridade central, será resistente à censura, segura e orientada para a comunidade.
  2. Código-fonte aberto: Qualquer pessoa pode contribuir com ideias, criar novos clientes ou recursos ou hospedar nós na rede.
  3. Incentivos alinhados: Todos que contribuem com valor são justamente compensados

Os músicos poderão gerar registros imutáveis ​​e com registro de data e hora de seus trabalhos criativos, tornando a propriedade do conteúdo publicamente verificável e imutável. Com uma rede descentralizada, endereçada ao conteúdo e protegida por uma blockchain, o conteúdo não pode ser adulterado. Se um criador eleger, seu conteúdo permanecerá ativo para sempre.

A moderação de conteúdo será orientada pela comunidade, com as disputas sendo resolvidas por um júri de pares na rede. Por exemplo, esse sistema de arbitragem poderia resolver reivindicações de pirataria ou determinar compartilhamentos de receita para conteúdo derivado. Nenhuma intervenção do governo ou entidade centralizada será capaz de palpitar sobre o que pode e não pode ser retirado da maneira que eles fazem hoje para vozes discordantes silenciosas.

É hora de proteger criadores vulneráveis ​​com tecnologia resistente à censura. Vamos permitir que os artistas distribuam o que gostam, quando gostam, a quem gostam – tornando impossível para um governo decidir qual conteúdo pode e não pode ser ouvido por seus cidadãos.


Escrito por: Roneil Rumburg
Tradução por: João Gabriel (@jgcastro1985
Revisão por: Paulo Droopy (@PauloDroopy)

Leia o artigo original clicando aqui.

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