Em um artigo publicado esta semana pelo site Barbados Today, David Commissiong, vice-presidente da Força-Tarefa Nacional de Reparações esclarece sobre a questão da reparação por escravidão no país. Em entrevista, Commissiong desmente a afirmação de que o ator britânico Benedict Cumberbatch deveria pagar uma indenização pelo passado escravagista de sua família.
Em entrevista ao site, Comissiong informou que tudo não passa de distorções – realizadas por parte da grande mídia – das declarações feitas pelo governo de Barbados sobre a questão da reparação. Tudo começou quando o famoso site britânico The Telegraph publicou um artigo baseado em declarações de Commissiong e do governo de Barbados sobre uma campanha que luta pela reparação da escravidão indígena e africana nos países caribenhos.
Está claro para mim que o jornal britânico Daily Telegraph iniciou uma missão para inventar sua própria narrativa sobre a Campanha de Reparação de Barbados.
afirmou David Comissiong
Ainda segundo ele, o jornal britânico distorceu de forma propositada as respostas dos entrevistados sobre a pergunta se o ator Cumberbatch deveria pagar alguma indenização. Com base nisso, o jornal afirmou que Barbados “não descartou uma ação de indenização contra o Sr. Cumberbatch e sua família!”
Commissiong também afirma que a campanha visa apenas que a indenização seja feita por parte de governos e empresas, e não indivíduos ou famílias. Segundo ele:
A família pode estar sujeita a todos os tipos de descontinuidades e misturas durante um extenso período de tempo.
A origem da confusão
Além das declarações que foram de fato distorcidas, há também entrevistados que defenderam a ideia que descendentes de escravistas paguem uma indenização aos descendentes dos escravizados.
Entre eles, está o secretário-geral do Movimento das Caraíbas pela Paz e Integração, David Denny. Em entrevista ao Telegraph ele afirmou que:
“Todos os descendentes de proprietários de plantações brancos que se beneficiaram do tráfico de escravos devem pagar indenizações, incluindo a família Cumberbatch”.
Grande mídia espalhando fake news?
Como apontado por David Comissiong, vários jornais da grande mídia, começando pelo Telegraph, vem distorcendo a questão da reparação pelo passado escravagista. Como já foi mostrado, a exigência de que descendentes de escravagistas paguem indenização aos descendentes das vítimas não é uma posição oficial do governo de Barbados, e não é compartilhada por todas as iniciativas que pedem tal reparação.
Nem todos partilham da mesma posição do Movimento das Caraíbas pela Paz e Integração sobre este caso. Este último inclusive exige que o governo receba a indenização e aplique em obras públicas, ao invés de repassar às vítimas.
Os jornais britânicos, como o Telegraph, não estão sozinhos nesta campanha de desinformação sobre o caso da reparação em Barbados. Vários jornais brasileiros de destaque, como Época Negócios e CNN Brasil continuam a espalhar essa fake news até agora.
A mesma grande mídia (pelo menos no caso da CNN Brasil) que defende que o estado proíba fake news. Seria combate ou monopólio das fake news? Quem sabe.
Por outro lado, este caso serve como uma grande oportunidade para mostrar que a grande mídia também está sujeta à desinformação e a distorção de informações, que ela mesma diz combater. Também serve para mostrar como a ação do governo na proibição das fake news é algo dispensável. A própria propagação da informação correta já combate de forma muito mais efetiva as fake news.
Além de ser o caminho ético, também é o mais eficiente. É importante que a propagação de informação seja livre e desimpedida e sirva como um espaço onde as pessoas terão a oportunidade de verem informações tendo sua veracidade colocada a prova.
As regulações do governo não impediram que a grande mídia propagasse fake news, cabendo a um site minúsculo como esse fazer o trabalho. Em um ambiente onde a informação desimpedida reina, a verdade sempre virá a tona.
Mas afinal, a campanha de reparação como defendida por Barbados possui fundamento?
O governo de Barbados, como explicado por David Comissiong, exige que apenas pessoas jurídicas como governos e empresas, paguem uma indenização como reparação ao descendentes dos escravizados.
Segundo ele “é muito mais fácil estabelecer uma reclamação de Reparações contra uma pessoa jurídica”.
Um exemplo apontado por Commissiong, é do membro do parlamento inglês, Richard Drax, cuja família possuiu uma fazenda onde escravos trabalharam até a abolição da escravidão, e cujas terras foram mantidas pela família Drax até agora.
De um ponto de vista da ética libertária, há uma forma simples e justa de lidar com isso: verificar se a propriedade foi devidamente apropriada após a escravidão, se foi mantida pelos descendentes (que estão isentos de qualquer punição) de forma ética e se não há nenhum descendente dos escravos que trabalhavam em tal propriedade identificável nos dias de hoje.
Neste caso, se todos os requisitos acima forem atendidos, os atuais proprietários poderão ficar com a fazenda, uma vez que qualquer recurso deve ficar com o primeiro que se apropriar dele. E como o descendente do escravagista se encontra na posição de primeiro apropriador na ausência de qualquer descendente dos escravizados, ele estará legitimado em assumir a propriedade.
No entanto, caso ainda existam descendentes dos escravos indentificáveis, então eles terão o direito de reinvindicar as terras ds fazenda como um direito legítimo.
Devido ao fato do estado por si só ser uma instituição injusta e sustentada por roubo e pilhagem, nenhuma reparação deste tipo cabe a ele ou qualquer outra pessoa além dos descendentes diretos dos escravizados.
Momento de Mea Culpa
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